13 de mai. de 2009

Microcontos

(Post importado. Data: 03/05/2008)
Saudações,

Como havia prometido, vamos falar um pouco sobre micro-contos. Sei que foge um pouco da proposta do site e blog, mas pelos deuses, é escrita! E, se serei um escritor, então devo degustar esta categoria interessante. E você, espero, no papel de leitor pode compartilhar de tal experiência comigo.

Vistos por mim, pela primeira vez, na comunidade do Orkut “Concurso de Micro-Contos”, inicialmente, admito, não gostei nem um pouco desta forma de expressão. Textos curtíssimos quando muito com cinco linhas que dificilmente faziam sentido. Porém, aos poucos entendi o espírito da coisa e logo me vi fascinado por eles.

O microconto, por ser muito simples requer muita habilidade e imaginação para se tornar um texto bom. Imaginem contar uma história cativante com tão pouco espaço. Pois bem, primeiramente, para atingir isso é necessário abstração. Deve-se olhar o texto e lê-lo com atenção, procurando encontrar as dicas que o autor irá deixar para a interpretação do contexto do conto.

Por ser curto, é fácil de escrever. E devido a isso, muitos trabalhos são simples e sem graça. Também tem autores que puxam o micro-conto para o lado cômico, acabando por fazer uma piada ao invés de contar uma história. Mas é nos bons micro-contos que está a excelência desta categoria de escrita. Frutos únicos, colhidos em meio a safras para que o leitor atento possa saboreá-los.

E foi experimentando estes frutos únicos, de argumentos bem elaborados, que me fascinei pelos “contos expressos”, e passei a escrevê-los também. Aproveitando o sucesso que a categoria fez no orkut, a editora Andross publicou o livro Expresso 600 reunindo uma seleção respeitável e ainda estará lançando outro livro que possui o mesmo tema, de nome Entrelinhas dia 35 de maio.

Bem, melhor que continuar a tentar descrevê-los é mostrá-los. Eu gostaria de colocar aqui o primeiro que li e considerei bom, mas infelizmente não consegui encontrá-lo. Também não vou tirar nenhum conto dos sites e comunidades para não ferir direitos intelectuais, logo, vocês terão que se conformar com três de autoria deste principiante na arte de dizer muito escrevendo pouco. Mas, se o sabor os fascinar, basta uma simples pesquisa para encontrar outras amostras na vasta web.

Exemplos de alguns microcontos que escrevi:

Título: Manias.

O monitor tomou o lugar do papel, o teclado substituiu a máquina de escrever, o backspace aposentou o corretivo.
Ao revoltar-se com seu parágrafo mal escrito, o autor o imprimiu, amassou-o e jogou por cima dos ombros. Tempos modernos, velhos costumes.


Título: Pais.

Os pais cercaram a filha, que chorava sobre dois cadáveres, e tentaram protegê-la como podiam. Sentiam-se impotentes em meio àquele tiroteio. As balas perfuraram o carro passando à poucos centímetros da pequenina mas não a acertaram. Quando o caos dissipou, eles afastaram-se e a encararam, saudosos. Por fim viraram para o anjo que os aguardava e concordaram em partir.


Título: Cotidiano em 2108

Observava a lua ansioso. Levou o dedo para trás da orelha e pressionou o implante para acionar o celular. Quando atenderam, falou rápido para economizar: “Mãe, Feliz Aniversário! Chego aí amanhã”.
Ela agradeceu e prometeu cozinhar seu prato predileto. Da janela, admirando saudosa o belo globo azul, arrependia-se de ter comprado o apartamento naquele fim de mundo.


Título: Vingança

Os outros deuses o humilharam, derrotando-o com seus poderes e aprisionando-o no vácuo. Agora havia escapado e, furtivo, invadira a Morada do Tempo. Assassinou cada um dos guardas e até Chronos, que escrevia o destino, tombou.


Título: Vermelho

Quando não restava mais esperança, o plebeu fez-se herói.

Espalhado em poças no chão, banhando os corpos sem vida, brilhante nas labaredas das casas, iluminando o céu crepuscular, refletido nas escamas do inimigo alado e, agora, tingindo sua espada gloriosa. A cor de sua dor, o cenário de sua vitória.


Espero que tenham gostado. Não esqueçam de comentar.

Obrigado pela Atenção!
Grande Abraço!

Leandro Reis

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